NOTA PÚBLICA - sobre a fala do ministro do STF (existência de uma "narcomilícia evangélica"
O Instituto Brasileiro de Direito e Religião – IBDR, por meio de seu presidente 1º Vice-presidente, vem a público manifestar-se acerca da recente fala do ministro do STF, Gilmar Mendes, em entrevista televisionada à Rede GloboNews referindo sobre a suposta existência de uma “narcomilícia evangélica” atuando na cidade do Rio de Janeiro.
Na última segunda-feira, dia 11 de março de 2024, em entrevista à GloboNews, o ministro Gilmar Mendes relatou presenciar, em reunião ocorrida no STF para tratar do combate ao crime organizado, a fala de um dos oradores alegando a existência de um suposto "acordo entre narcotraficantes e milicianos pertencentes ou integrados a uma rede evangélica". Dessa forma, assim proferiu o ministro:
“Recentemente, o ministro Luís Roberto Barroso presidiu uma reunião extremamente técnica sobre essa questão, e um dos oradores falou de algo que é raro ouvir: uma narco milícia evangélica, aparentemente no Rio de Janeiro, onde já se tem um acordo entre narcotraficantes e milicianos pertencentes ou integrados a uma rede evangélica. É algo muito sofisticado”.
As próprias palavras do ministro revelam tamanha estranheza diante do alegado, quando ele mesmo afirma ser “algo que é raro ouvir”. Visto que é de conhecimento comum que o Brasil é composto por mais de 80% de cristãos, sendo dentre estes, cerca de 70 milhões evangélicos, o que torna o Brasil o 4° país mais evangélico no mundo.
Por efeito disso, tal fala gera um grande desconforto, tanto a esta comunidade bastante plural em suas tradições, quanto em toda a sociedade, que, historicamente, sempre acolheu muito bem as manifestações de fé. Ademais, as pautas abordadas na referida reunião do Supremo são temas muito caros à comunidade evangélica brasileira, fortemente engajada no combate à drogadição. Seja no trabalho de capelanias prisionais ou em comunidades terapêuticas, onde mais de 60% têm seu funcionamento a partir da visão confessional evangélica.
Sendo assim, é de suma importância para a própria sociedade evangélica que, caso exista a suposta rede criminosa, seja ela investigada, processada e punida com a devida severidade.
Entretanto, é imprescindível destacar que discursos generalizadores sobre grupos específicos contribuem para a propagação de fake news e para o efetivo aumento do discurso de ódio. Por exemplo, rotular todo o segmento religioso com base na associação de um indivíduo ao narcotráfico é injusto e prejudicial.
Sendo assim, o IBDR vem se manifestar em concordância com demais lideranças evangélicas, e com o ministro André Mendonça, que se manifestou por Nota Pública, para solicitar que Sua Excelência o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal, identifique o orador desta afirmação, e que o mesmo leve às autoridades policiais as informações que sejam de seu conhecimento a respeito destes supostos fatos narrados, como medida de esclarecimento e pacificação.
Porto Alegre/RS, 14 Março de 2024.
Dr. Thiago Rafael Vieira - Presidente do IBDR
Dr. Jean Marques Regina - 1° Vice-presidente do IBDR